Projeto Flor da Idade


Até meados do século passado, a comunidade São Gonçalo ficava fora do perímetro urbano de Cuiabá. Seus moradores tinham costumes típicos dos ribeirinhos que viviam da pesca e da agricultura de subsistência. Outra atividade desenvolvida por seus habitantes era a produção de cerâmica utilitária, como panelas, potes e moringas. A região foi rica em argila, que era tirada até dos quintais dos moradores. Hoje, a retirada é feita cada vez mais longe do bairro, rio abaixo. As ceramistas enfrentam a concorrência das empresas cerâmicas que também utilizam a matéria-prima para fabricar tijolos e telhas. Com o processo de urbanização de Cuiabá, intensificado nas décadas de 70 e 80 do século XX, houve mudanças no modo de vida desses moradores. É o que revelam algumas dessas pesquisas feitas em São Gonçalo. A chegada dos turistas, por exemplo, levou os ceramistas a mudarem o tipo de produção artesanal baseada em utensílios domésticos para objetos de decoração, mostrando, assim, a influência das relações sócio-econômicas e sua ingerência no cotidiano daquele espaço. Na comunidade São Gonçalo Beira Rio, em Cuiabá, a cerâmica ainda faz parte da rotina dos ribeirinhos graças ao trabalho de algumas mulheres, dentre elas 10 artesãs que resistem no Quintal da Domingas na comunidade São Gonçalo beira rio para não deixar essa arte cair no esquecimento. No olhar dessas artistas, um misto de alegria e tristeza entre a importância da cerâmica para a identidade do local e o lamento pelo desinteresse dos mais jovens em manter a tradição. A lenha é adquirida com terceiros e o barro é preciso remar rio abaixo para buscar a argila nos barrancos. Mas a facilidade não é suficiente para atrair novos artesãos. A tradicional cerâmica de São Gonçalo tem muita dificuldade para se manter. A falta de interesse estaria relacionada ao fato da cerâmica não render ao artesão um salário fixo, como em outras profissões. A palavra cerâmica vem do grego “keramos”, argila, e se refere à manufatura de objetos a partir do barro que depois são cozidos no forno à lenha. É uma arte milenar, presente na história e na cultura de diferentes povos, do Oriente ao Ocidente. Em São Gonçalo Beira Rio, registros históricos apontam que a cerâmica foi introduzida pelos índios Coxiponés, que viviam na região e influenciaram na cultura dos “novos” moradores. O povoamento da comunidade se deu a partir do século 18, com as primeiras expedições de bandeirantes paulistas a Mato Grosso. Localizada à margem esquerda do rio Cuiabá, a comunidade se fortaleceu com a descoberta do ouro, tornando-se Arraial de São Gonçalo Beira Rio. Nessa época a cerâmica fazia parte do dia-a-dia das pessoas na forma de utensílios domésticos como moringas e vasos para guardar mantimentos. Com o tempo a técnica, passada de geração em geração, especialmente entre as mulheres, se tornou identidade e fonte de renda em São Gonçalo.

#CeramistasDeSãoGonçaloBeiraRio


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